sobre memórias e realidades
Como o passado é recordado? A memória é a interpretação ou a representação da realidade? E a realidade é uma lembrança recriada? Talvez sejam essas questões que irão ressaltar no consciente ao deparar-se com as obras que compõe a exposição.
Sendo memória a claridade fictícia das sobreposições que se anulam, seu significado é uma espécie de mapa das interpretações que se cruzam – nossos sentimentos.
O cérebro não sabe a diferença entre realidade e pensamento já que as mesmas vias neurais envolvidas com a codificação da vivência real também se manifestam em um pensamento como lembranças.
As obras reunidas traçam um diálogo entre a imagem (a representação sensível do objeto) e a ideia (o sentido do objeto, a sua interpretação mental) questões discutidas por Platão e Aristóteles nas teorias sobre a natureza do real.
Ingrid Antunes provoca um mergulho ao espelhar o céu da cidade, transformando-o em mar poético, que a primeira vista parece inofensivo, mas basta um olhar para sentir profundidade e introspecção.
Janaina Piccoli inverte a imagem captada da paisagem urbana e mostra a beleza, muitas vezes não percebida, na linearidade dos fios de energia elétrica. Um paradoxo entre vida e morte.
Audrian Cassaneli aproxima o objeto de desejo e a natureza num diálogo poético com Dostoievisk e rompe a barreira do espaço e do tempo nas relações humanas.
Cristina Luviza Batiston apresenta um vídeo construído com fotografias da casa da avó e expõe o patrimônio cultural por meio da história pessoal. A afinidade do humano com seu habitat.
Sonia Loren trama com fios de alma analogias entre o passado e o presente ao apropriar-se de fotografias familiares da primeira comunhão e inseri-las em seus já conhecidos e expressivos trapos.
Rodrigo Cardoso dialoga com a pintura e a fotografia ao apropriar-se de molduras e imagens antigas. Aborda tradição e contemporaneidade, numa conexão com o interno e o externo, no espaço da cidade.
Gina Zanini transporta o espectador a outro ambiente e questiona o real por meio de uma ficção da realidade entre o objeto e a imagem de consumo por ele projetada.
Janaína Schvambach capta imagens da cidade e discute o processo, a autoria e o suporte da pintura por meio da fotografia, numa relação contemporânea e semiótica.
Juliana Povola entrelaça com meia calça feminina vidros suspensos no espaço, aborda as afinidades humanas, muitas vezes contraditórias, mas sempre emanadas de desejos e prazeres.
O ser humano e a cidade, apresentada por diferentes processos, a partir da memória e da construção da realidade, visto que o fato narrado depende da subjetividade de cada sujeito, é o fio que costura as obras. Portanto não há verdade absoluta – apenas ilusão. Ao público resta mergulhar de corpo e alma nas brumas de lembranças e sentir o pulsar da vida.
Franzoi - curador